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A Biblioteca Escolar do Agrupamento de Escolas de Resende (antes denominada BE do AVEResende) era constituída, no ano letivo de 2009/2010, pela Biblioteca do Centro Escolar de S. Martinho de Mouros (BCESMM) e pela Biblioteca Dr. Joaquim Correia Duarte (BJCD). No ano letivo de 2010/2011, a BE ficou enriquecida com a Biblioteca do Centro Escolar de Resende (BCER). Em 2011/2012, com a junção de escolas, o Agrupamento de Escolas de Resende passou a ter, com a BEgas (Biblioteca da Escola Secundária), quatro bibliotecas em funcionamento. Atualmente, e desde 2013/2014, a BE é formada por mais uma biblioteca, a do Centro Escolar de S. Cipriano (BCESC). Constituem objetivos principais da BE: disponibilizar recursos e serviços, para todas as escolas do agrupamento, e fomentar, entre estas, o diálogo e a cooperação, em parceria com as entidades locais, de modo a contribuir para a consolidação da Rede de Bibliotecas Escolares e promover o serviço de marketing educativo/cultural da BE. O horário de abertura do espaço físico das bibliotecas abrange o tempo de permanência dos alunos em cada escola.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Ler a crescer! - Pão nosso de cada dia

Pão nosso de cada dia

Viviam juntas mãe e filha. Uma encantava pela modéstia; outra irritava pela toleima – apesar de ser bonita. Certa noite, a mãe, não podendo adormecer, preocupada a pensar no destino de sua filha, ajoelhou-se e pediu a Deus que modificasse o feitio de Sília, fazendo-a bondosa e discreta.
Na manhã seguinte, perguntou-lhe:
— Que sonho era aquele, filha, quando esta noite cantavas?
— Ai, sonhava, minha mãe, que um senhor descia de uma carruagem de cobre e me oferecia um anel com uma jóia tão preciosa e brilhante que não haverá no céu estrela de maior brilho.
— Foi um sonho de vaidade! – responde a mãe. E nisto batem à porta. Sília corre e vai abrir: entra um rico lavrador. Oferece-lhe terras de lavoura, montados, hortas, pomares, uma infinita riqueza!
— Mesmo que viesses em carro de cobre e me desses uma jóia mais fulgurante e mais bela do que uma estrela do céu, não casaria contigo. O lavrador, desiludido, foi-se embora, e, nessa noite, Sília voltou a sonhar.
— Com quem estás tu a sonhar? – perguntou a mãe, acordando-a.
— Ai, sonhava, minha mãe, que um senhor descia de uma carruagem de prata e punha nos meus cabelos valiosíssimo diadema de oiro!
— Que pecado, minha filha! Vai rezar para abrandar esse teu grande egoísmo! Na tarde do dia seguinte um moço esbelto, sadio, apareceu a oferecer-lhe a sua vida, a sua fortuna, o seu amor.
— Nem que viesses em carro de prata e pusesses nos meus cabelos formosíssimo diadema de oiro eu casaria contigo!
E o moço partiu tristemente.
— O teu orgulho há-de perder-te! – dizia a mãe para a filha. Outra noite, Sília voltou aos seus sonhos de perdição e ao ser interrogada pela mãe, contentíssima, exclamou:
— Ai, sonhava que um fidalgo descia de um carro de oiro e pedindo-me em casamento oferecia-me um vestido de rubis e diamantes.
— Não te emendas, minha filha, mas hás-de pagar bem caro essa fome de grandezas.
Momentos depois três carros paravam à porta onde residiam ambas. Um de bronze, outro de platina e outro de cristal. O primeiro puxado a doze cavalos; o segundo, a vinte cavalos; e o terceiro, a quarenta! Dos carros de bronze e platina desceram pajens vestidos de seda verde e azul. Do carro de cristal saiu um lindo rapaz coberto de pedraria. Entrou em casa de Sília e, de joelhos e humilde, beijou-lhe as mãos num sorriso.
— Finalmente, sou feliz! O meu sonho transformou-se na mais bela realidade.
E orgulhosa foi vestir o vestido de noivado. Partiram para a igreja. Os cavalos galopavam num frémito de alegria.
— Vou dar a minha mulher os meus presentes! – dizia ele ao regressar, e entrando na sala suave do seu palácio de turquesa:
— Tudo isto é para ti.
Sília sorriu e a sorrir foi-lhe dizendo:
— Sabes que já tenho fome?
— Ponham a mesa e sirvam-nos o banquete! – gritou ele aos seus vassalos.
Saladas de topázio, assados de ametistas e doce de pérolas; todos comiam e repetiam. Só ela não podia comer. A medo pediu um bocadinho de pão.
— É a única coisa que não te posso dar! – respondeu ele.
E desatou às gargalhadas, gargalhadas metálicas, cantantes, porque o seu coração também era de metal.
Ela chorou!
— Chorar para quê? Não desejavas tudo isto? Não tens agora o que sempre ambicionaste?
Rodeada de riquezas, saía do palácio, à noite, e andava de porta em porta disfarçada e muito triste, a pedir cheia de fome um bocadinho de pão.

Os Contos de António Botto
Marginália Editora, s/d

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